Arquitetura e Significado
16/05/2023 . 2 min
16/05/2023 . 2 min
Se você for aos museus certos, sai de Berlim com a impressão que a história do século XX é a história da Alemanha.
O DDR museum - memorabilia do comunismo soviético na versão berlinense - fala ao racional, com a reconstituição de cenários e relatos variados da morte em vida da grande cidade alemã. Volto a ele em outro momento.
O Museu Judaico, por sua vez, é puro sentimento. Organizado quase como uma mansão mal assombrada para adultos, tenta fazer da arquitetura a ferramenta para revelar o que enfim está sendo exposto por lá: nossa consciência, e como ele reage diante do horror.
Dois momentos.
No longo corredor que leva ao “Memory Void” um som fabril de metal vai aumentando em direção à estreita passagem de acesso.
Ao entrar na sala, descobrimos que o som “de trabalho” nada mais é do que o caminhar dos visitantes sobre as cabeças horrorizadas que representam os judeus mortos. Você hesita, não quer pisar. Mas é irresistível viver a experiência até o fim.
Agora é você que está pisoteando rostos assustados e atraindo mais gente para lá.
Seu estômago não se move. Talvez seja melhor assim.
No outro vazio, Holocaust Tower, você abre uma porta e entra em um breu completo. Procurando um significado naquilo, você olha para cima e descobre uma fenda estreita de luz natural, a tantos metros de altura que não chega a interferir no solo. Você vê a luz, mas ela não é para você. E então algo acontece. Seus olhos se adaptam a escuridão e você percebe, aos poucos, que não está sozinho na torre.
Vultos aparecem lentamente, primeiro de forma fantasmagórica, mas em seguida criando uma experiência solidária. Estamos juntos ali. E então a porta é aberta pelo próximo visitante.
Isso não é literatura, não é cinema. Isso é a arquitetura carregada de significados a ponto de deixar de ser suporte e tornar-se a própria obra de arte.