O Arquiteto

Ser arquiteto é ter de pensar em incêndios, acidentes, frio ou calor demais, pane elétrica, pane seca, cadeiras de rodas, bengalas, quanto pesa uma estante de livros ou uma piscina, como um guindaste entra em uma escola, e como toneladas de terra saem do terceiro subsolo.

Mas não é isso que é ser arquiteto.

Arquitetos também tem de pensar em como seu projeto torna o bairro mais atraente, a rua mais segura, a calçada mais viva. Em como árvores, plantas, animais e sais minerais conquistam seus espaços pelo percurso.

Se os pontos de chegada - mesa de trabalho, cama, sofá, churrasqueira, arquibancada - são oásis urbanos, ou celas de um crime que o usuário não cometeu.

Mas ainda não é isso que é ser arquiteto.

Arquitetos tem de pensar no que um espaço faz que, em uma fração de segundos, capta se não a atenção, ao menos uma fração da alma de quem entra nele.

Tem de criar a vontade de ficar ali por tempo indeterminado. Uma atmosfera que ressoa dentro do coração como se já estivéssemos estado lá em sonhos, outras vidas, passadas ou futuras.

Evocar a admiração pelo trabalho ali empenhado, o que traz a momentânea mas concreta esperança de que pelo menos uma parte da vida, da humanidade, ainda está apontada para o lado certo.

Ser arquiteto é trabalhar para provocar todos os dias essas reações. Um eterno retorno ao primeiro sorriso, ao alívio de reconhecer, em meio ao caos da vida, um lugar ao qual pertencemos, e que adoramos estar.